quinta-feira, 7 de junho de 2007

Entrevista com a atriz Eunice de Souza Espíndola - in memorian

“O teatro é para o povo, e não para uma platéia seleta”.

Eunice de Souza Espíndola
Atriz

Atriz de trabalho admirado em nossa cidade, Eunice de Souza Espíndola é filha de Barretos; mãe e mulher de hábitos simples, há 10 anos presta serviços a Associação Barretense Vida Nova (ABAVIN), entidade esta que zela pelos portadores de deficiência; como professora de teatro no Colégio Soares de Oliveira, há 16 anos, trabalha as séries iniciais (as crianças de 1ª a 4ª) daquela instituição; como imortal pertence a Academia Barretense de Cultura (ABC), acadêmica efetiva – cadeira nº 37. Eunice, entre outras pessoas, no porão do Museu de nossa cidade, em 21 de Agosto de 1979, ajudou a fundar o Grupo Teatral Amor a Arte de Barretos (GTAAB).
A origem do nome Eunice nos remete ao povo grego cuja influência marcou o desenvolvimento do teatro no ocidente, e também revela uma mulher vencedora, pois o significado do seu nome é: “a que ganha”.
Eunice ganhou, em 8 de agosto de 2003, da Câmara Municipal de Barretos como prêmio de reconhecimento, o título de Cidadã Benemérito por relevantes serviços prestados. Assim como diploma de Acadêmica Especial outorgado pela ABC pelo trabalho que desempenhou junto a sociedade por sua interpretação como atriz em peças teatrais, sobretudo no papel de Maria, mãe de Jesus no espetáculo Paixão de Cristo realizado no Parque do Peão em 26 de abril de 2003. Aqui algumas de suas opiniões sobre o teatro.


Quais os atores ou atrizes que mais admira?
A nível municipal, os meus amigos do GTAAB; já na esfera nacional, gosto do Lima Duarte, Antônio Fagundes, Fernanda Montenegro e a grande Eva Vilma.

Há algum diretor em nossa cidade cujo trabalho admira em especial?
Em Barretos, admiro o trabalho do Ricardo Tadeu Marques.

Qual a maior injustiça que se possa fazer com um ator?
Barretos não tem um local para que o teatro barretense se desenvolva a plenos pulmões. Quer injustiça maior?

Qual a sua visão particular sobre a crítica no nosso país?
Na ocasião em que o ator trabalha, a crítica seja ela boa ou não só é mesmo importante para aquele ator que a recebe sempre procurando ver o seu lado construtivo. Agora, se o ator pára de trabalhar, seja por falta de espaço ou por questões financeiras, ele é simplesmente esquecido por todos.

Cite uma montagem teatral que tenha frustrado sua expectativa?
Não houve. Porque, como disse anteriormente, as que assisti sempre me acrescentaram algo. Para mim não há peça boa ou ruim; você precisa tirar algum ensinamento. Veja, uma montagem ruim lhe ensina como não se deve fazer um peça de teatro.

No cenário brasileiro, quais montagens teatrais que marcaram sua vida, porque a fizeram pensar?
Conflito dos deuses, como o ator Euri Silva.

O que acha da comédia?
É o gênero que mais gosto. Rir é uma das sensações mais gostosas da vida.

O que é um espetáculo difícil para você?
A comédia, porque você precisa fazer as pessoas rirem. Imagine-se como ator tentando fazer comédia diante de uma platéia que não ri.

Qual a peça de teatro que mais gostou de fazer?
Apresentei a peça “O Homem, a Mulher e a Flor”, com o Ricardo Tadeu como diretor. A estréia da peça aconteceu no Grêmio Literário e Recreativo de Barretos em 1985... Inesquecível.

A Atriz Lilia Cabral, certa vez disse: “a prepotência é o que mais a incomoda no mau teatro? E para você?

Concordo com ela. Veja, a prepotência só é um outro nome para o estrelismo. E não é nada bom trabalhar com um colega com esta característica.

Defina o bom teatro?
É aquele que prende a platéia do começo ao fim. Se for comédia, as pessoas rirão o tempo todo. Já num drama vão se emocionar e chorar o tempo todo.

Como você vê o teatro contemporâneo?
Eu não gosto, sou tradicional. No meu tempo a noção de começo, meio e fim acontecia de modo natural. Ou seja, o povo entendia o espetáculo sem maiores problemas. Em outras palavras, não vejo sentido em assistir uma peça em que o público precisa adivinhar o que está se passando. É como na pintura; tenho horror a ficar olhando para quadros com significados subtendidos. Prefiro aqueles quadros fabulosos dos mestres das luzes e da sombras, verdadeiros retratos da realidade e testemunhos da história. O teatro é para o povo, e não para uma platéia seleta.

O que nunca lhe perguntaram sobre o teatro e/ou sua vida, mas que sempre teve vontade de comentar?
O Grupo de Teatro Amor a Arte de Barretos foi fundado em 1979, portanto, tem 27 anos de existência. Mas em todos esses anos nunca tivemos uma sede nossa. Acho que as autoridades precisavam se dedicar mais a este grupo (GTAAB) que ainda perdura em promover cultura em nossa cidade por meio do teatro.

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